// Fernanda Bruno na Intersectional Conference 2020: Encarceramento e sociedade

29 de janeiro de 2020

 

Começa hoje a I Conferência Interseccional 2020: Encarceramento e sociedade. Até sexta (31), o evento realizado na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal, irá aprofundar o tema “Encarceramento e sociedade”, inscrevendo-o nos espaços marcados pelo colonialismo europeu e seus legados. Através de uma abordagem interdisciplinar, a conferência pretende reunir contribuições de diversas áreas, como História, Sociologia, Religiões, Artes e Humanidades, valorizando abordagens interseccionais que cruzem questões de gênero, de classe social, de raça, de nacionalidade e de etnia.

Conferencistas confirmadas: Ruth Gilmore (NYU) e Shahd Wadi (Palestina)

 

A coordenadora do MediaLab.UFRJ, Fernanda Bruno, coordena o Grupo de Trabalho 5 Tecnologias de vigilância e controle: perspectivas descoloniais e interseccionais.

Os estudos sobre tecnologias de vigilância e controle vêm sendo marcados, nas últimas três décadas, por uma forte interdisciplinaridade, cruzando campos como a sociologia, a comunicação, a antropologia, o direito, os estudos culturais, a geografia, o urbanismo, a filosofia da técnica, a ciência da informação etc. Sobretudo após os atentados do 11 de setembro de 2001, uma agenda global tem se consolidado em torno questões relacionadas à privacidade e à proteção de dados pessoais no espaço informacional e no espaço urbano, à generalização das políticas securitárias e anti-terrorismo, ao monitoramento das ações e interações sociais em plataformas digitais, a processos automatizados de captura e análise de rastros digitais etc. Mais recentemente, as estreitas relações das tecnologias de vigilância e controle com o capitalismo contemporâneo e as formas de governo neoliberais têm sido ressaltadas em diversas publicações, assim como os procedimentos algorítmicos de controle da conduta. Neste âmbito da governamentalidade algorítmica (Rouvroy, 2017) e do capitalismo de vigilância (Zuboff, 2018), alguns trabalhos cruciais vêm apontando a presença de processos de discriminação racial, de gênero e/ou de classe (Eubanks, 2018; Noble, 2018; O’Neil, 2016). Além disso, relevantes pesquisas atuais reivindicam uma perspectiva atenta às questões raciais e feministas no campo dos estudos de vigilância (Browne, 2015; Dubrofsky and Magnet, 2015). Tais perspectivas ainda são, contudo, minoritárias. Apesar de os alvos privilegiados das tecnologias de vigilância e controle serem, historicamente, os povos originários, as mulheres e as populações negras e pobres, há ainda poucas pesquisas sobre o tema. Do mesmo modo, embora os estudos sobre tecnologia e sociedade contem, recentemente, com uma forte presença de perspectivas feministas, o campo mais específico de pesquisas sobre tecnologias de vigilância e controle ainda é relativamente carente de abordagens feministas e interseccionais. O mesmo vale para perspectivas descoloniais (Arora, 2019), ainda pouco presentes neste campo. Este Grupo de Trabalho visa, assim, convidar ao fortalecimento e à ampliação do debate intersecional e descolonial em torno das tecnologias de vigilância e de controle, tendo em vista tanto as suas matrizes históricas quanto os seus desdobramentos contemporâneos.

 

Veja mais sobre o evento em: http://intersectional2020.ces.uc.pt/