Anonimato #protestosbr

7 de agosto de 2013

ANONIMATO NAS RUAS E NAS REDES

A presente pesquisa foi desenvolvida na disciplina Cartografia das Controvérsias, ministrada pela Profa. Fernanda Bruno, no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Escola de Comunicação da UFRJ.

Site da cartografia: http://anonimatoprotestosbr.wordpress.com

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Desde o mês de junho de 2013 vêm ocorrendo protestos em diferentes cidades do Brasil. Inicialmente, tais manifestações foram motivadas pela reivindicação da revogação do aumento de R$0,20 na tarifa de ônibus em algumas capitais e, em alguns casos, tendo em vista a pauta da tarifa zero, como nas iniciativas do Movimento Passe Livre (MPL) em São Paulo. Contudo, tais protestos passaram por uma vertiginosa aceleração e expansão, em particular depois da manifestação do dia 13 de junho em São Paulo, marcada pelo confronto da força policial com os manifestantes.

Os atos que seguiram esta data foram marcados pelo grande número de pessoas nas ruas, multiplicação das pautas e reivindicações (transporte público, crítica aos mega eventos esportivos, PEC37, corrupção, entre tantos), violência policial, intenso uso das redes digitais de comunicação (facebook, twitter, youtube, vimeo, tumblr etc), entre outras peculiaridades que vem se atualizando a cada momento. Assim, ao falarmos dos #ProtestosBR estaremos tratando dessa articulação entre as redes e as ruas, usando essa expressão aglutinadora na forma de hashtag.

No contexto dessas manifestações, podemos destacar a controvérsia que diz respeito ao anonimato. Em um momento de articulação política entre diferentes coletivos sociotécnicos podemos perceber as nuances deste anonimato expresso pelos atores em disputa, o que nos leva às seguintes questões:

Quais os usos, ações e funções políticas do anonimato em tais manifestações ocorridas no Brasil?

Quais as disputas de sentido em torno do anonimato?

Defendido ou execrado, explorado ou denunciado, o anonimato reflete tais conflitos políticos contemporâneos e suas dimensões estéticas de expressão, uma vez que é notável seu caráter performativo. O anonimato vem sendo difundido em iniciativas globais como um vetor de proposição de uma política horizontal, na qual a liderança é diluída em favor de uma produção de comum.

Os conteúdos produzidos nos #ProtestosBR e compartilhados em redes sociais (textos, imagens captadas por telefones celulares, câmeras fotográficas e de vídeo, memes etc), indicam que o uso de lenços, máscaras, gorros, camisas etc, pode ser associado à proteção do rosto e da identidade no confronto com a polícia nas ruas, à referência a símbolos presentes em outras manifestações no mundo, à vinculação a um ideário anonymous, especialmente através da máscara de Guy Fawkes, entre outras possibilidades.

Por outro lado, o uso do anonimato também é percebido por parte das forças policiais durante os #ProtestosBR, o que intensifica a controvérsia. Policiais sem identificação na farda ou mesmo sem fardamento, o uso de máscaras de gás, gorros ou capacetes que impossibilitam ou dificultam o reconhecimento facial, são percebidos nas ruas e registrados nas imagens que circulam nas redes levantando debates sobre a ilegalidade e impunidade no exercício da segurança pública.

Deste modo, destacamos a controvérsia do anonimato nesses protestos por ações sempre heterogêneas e mesmo discrepantes, que levantam questões a respeito das relações entre: desobediência civil e discurso da autoridade; anonimato e impunidade; espaço público e máscara social; vigilância através das imagens e vigilância distribuída; identificação/referência política com o anonimato em outras manifestações históricas, entre outras.

Site da cartografia: http://anonimatoprotestosbr.wordpress.com