SEGUNDO ENCONTRO #LUTASGLOBAIS: Japão
6 de março de 2014Fukushima é aqui: neoliberalismo e resistência no Japão pós-desastre
A atual configuração do capitalismo global cria hegemonias cujo alcance incita o surgimento de solidariedades que podem colocar em diálogo lados opostos do mundo. No Japão, o inimigo é a radiação – inodora, invisível, insípida – produzida e distribuída por uma lógica de riscos inerente a um sistema de produção de uma sociedade de capitalismo avançado. No Brasil, o discurso desenvolvimentista exalta a economia a crescer pela mesma lógica que priorizou a expansão capitalista em detrimento das condições de sobrevivência de milhares. Esta apresentação vai abordar o caso do acidente nuclear em Fukushima em março de 2011 e os desdobramentos políticos desde então: o ressurgimento de protestos de rua; as vitórias políticas de alguns pouco candidatos independentes em meio à consolidação de um governo de maioria conservadora e pró-nuclear; a batalha ideológica sobre os riscos da energia nuclear; o surgimento de canais de mídia independentes em meio a um contexto de estatização e alinhamento conservador da grande mídia. A ideia é promover um debate aberto sobre os elementos comuns à lugares tão distantes na expansão e resistência ao capitalismo neoliberal.
Lugar: MediaLab.UFRJ (Sala 106) da Escola de Comunicação da UFRJ.
Data: 11 de março – das 19 às 22h.
https://www.facebook.com/events/1404922006435397
Em 11 de março de 2011 um terremoto sob o Oceano Pacífico atingiu a costa leste do Japão causando um tsunami de proporções imprevistas que deixou um rastro de destruição e quase 20 mil mortos. A onda também atingiu a usina nuclear Fukushima 1 e durante as semanas seguintes o mundo assistiu ao pior desastre nuclear desde Chernobil, em 1986. Imediatamente, o povo japonês saiu às ruas para expressar insatisfação com o governo, a companhia de energia elétrica operadora da usina e com um modelo de desenvolvimento que prioriza ganhos de capital aa saúde da população.
Esta apresentação aborda os protestos contra a energia nuclear em Tóquio desde abril de 2011 até o outono de 2012. Dentre a pluralidade de grupos e indivíduos que participaram, o enfoque é dado a um pequeno grupo localizado na extrema esquerda do espectro político cujas origens remontam às defecções anti-stalinistas do Partido Comunista Japonês na década de 1950. Apesar de minoritário dentro do movimento anti-nuclear contemporâneo, este enfoque permite abordar produtivamente duas dicotomias onipresentes na discussão de movimentos sociais, japoneses e em geral. A primeira refere-se oposição entre ocidente e oriente, em especial no que diz respeito à possibilidade de democracia e subjetividade no mundo pós-colonial. Contra o senso comum da Ásia ser um continente despótico, uma historização que contextualize os processos políticos do presente em determinadas formações de modernidade expõe os antagonismos da sociedade japonesa, especialmente aqueles formados em meio à aceleração de sua inclusão no capitalismo global após o fim da Segunda Guerra Mundial.
No entanto, a análise histórica facilmente degenera na oposição entre os chamados novos e velhos movimentos sociais, que urge ser questionado quando, por um lado, o político está cada vez mais claramente ligado à emergência de solidariedades contingentes e, por outro, a esquerda mundial se questiona quanto ao que deve ser feito com a tradição de lutas anti-capitalistas anteriores. No caso em questão, um grupo de velha guarda leninista adotou o tema anti-nuclear e se viu parte de uma coalizão heterogênea que valoriza sobretudo o “novo”. As tensões que surgem e as reações dos protagonistas representam o cerne dessa tentativa de mapear os novos antagonismos e solidariedades surgidos após o desastre de Fukushima.
Com Vinicius Furuie.
Vinicius Furuie possui formação em jornalismo e estudos culturais pela Universidade de São Paulo e pela Universidade de Tóquio. Seu trabalho aborda movimentos sociais e de resistência política nos dois países por meio de um enfoque antropológico, tendo escrito uma etnografia do movimento anti-nuclear em Tóquio pós-Fukushima e sobre a luta de comunidades ribeirinhas na Amazônia contra madeireiras e hidrelétricas, entre outros temas. Além de trabalhar como jornalista em São Paulo e Tóquio, ele participou como ativista em diversas campanhas nas duas cidades, sobretudo pelo direito à comunicação, educação e direitos humanos. Para um exemplo de trabalho publicado em português: http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=39371
Organiçado por Pablo de Soto.