#EstamosLendo_11 // Are You Sexy, Flirty, Or A Slut? Exploring ‘Sexualization’ and How Teen Girls Perform/Negotiate Digital Sexual Identity on Social Networking Sites, Jessica Ringrose
23 de junho de 2022Por Manuella Caputo
Se, por um lado, a sociedade sempre observou com preocupação o desenvolvimento e exercício da sexualidade de meninas adolescentes, o que muitas vezes provocou o surgimento do pânico moral, por outro, agentes específicos de áreas como mídia e comércio têm investido na estratégia de venda da feminilidade e da sexualização como caminhos para o empoderamento feminino. Esse é o contexto incorporado pelo pós-feminismo que, segundo a pesquisadora Jessica Ringrose, indica o período atual em que o feminismo é visto por muitos como um movimento ultrapassado. E, como solução para os problemas estruturais enfrentados pelas mulheres, entra o consumo de bens e serviços da indústria voltados para um empoderamento que é, na realidade, raso e individualista.
Professora do Institute of Education da University College London (UCL), Ringrose tece suas reflexões sobre esse cenário no artigo Are You Sexy, Flirty, Or A Slut? Exploring ‘Sexualization’ and How Teen Girls Perform/Negotiate Digital Sexual Identity on Social Networking Sites. Apesar de publicado em 2011, como capítulo do livro New Femininities – Postfeminism, Neoliberalism and Subjectivity (org. Rosalind Gill e Christina Scharff), o trabalho investiga questões pertinentes até hoje para compreender a formação da identidade sexual de meninas adolescentes na era das redes sociais.
Ringrose argumenta que as e os adolescentes seguem experimentando com o desenvolvimento da identidade sexual como sempre fizeram, mas, o uso das redes sociais para a publicização de suas representações, onde há “incitação a formas específicas e normativas de autorrepresentação visual sexualizada e generificada”, os compelem a realizar a construção de uma “subjetividade sexual digital semi-pública”. Para as meninas, isso representa o desafio, por exemplo, de parecer sexualmente desejável, mas não “fácil” em seus perfis virtuais, como apontado por algumas entrevistadas no artigo. As adolescentes compõem ainda um público bastante suscetível a ser alvo de cyberbullying e de importunação sexual online, o que adiciona mais uma camada a ser avaliada na construção desses perfis.
Recusando tanto a adesão ao pânico moral ou aos modelos de sexualidade e feminilidade impostos sobretudo pela lógica do consumo, a pesquisadora sugere a revitalização de uma “crítica pedagógica explicitamente feminista” a respeito do assunto. Para a autora, a melhor alternativa está em uma educação feminista que estimule o pensamento crítico das/os adolescentes sobre as tecnologias disciplinares de representação que incidem na construção, hoje quase inevitável, de uma identidade sexual digital.
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