MediaLab.UFRJ lança a pesquisa “O app no divã: o estudo de caso Cíngulo”

18 de outubro de 2022

O MediaLab.UFRJ lança hoje, dia 18 de outubro, a pesquisa O app no divã: o estudo de caso Cíngulo“, que aborda os usos do aplicativo de bem estar emocional de mesmo nome. O Cíngulo é o aplicativo brasileiro mais bem avaliado na categoria saúde e fitness da Google Play Store no país. A propaganda do app sugere que “você pode resolver as questões emocionais que mais atrapalham a sua vida e se aprimorar pelo autoconhecimento. Tudo por conta própria”. 

Segundo a OMS, o Brasil é um dos países que mais tem pessoas ansiosas ou com depressão (mais de 11 milhões de pessoas, de acordo com relatório divulgado em 2020), o que faz com que as pessoas procurem cada vez mais alternativas para lidar com seu sofrimento. Entre elas, está o uso de aplicativos de cuidados de saúde emocional. À palma da mão e apenas a alguns cliques de uma prática terapêutica, usuários depositam muitas esperanças de melhora de suas angústias em ferramentas digitais. 

Que concepções de bem estar psíquico e emocional legitimam as funcionalidades destes aplicativos e, em especial, do Cíngulo? Em que medida a ênfase na autonomia individual, muito presente em seu discurso institucional, reaparece na experiência de uso do app? De que modo uma “terapia guiada por dados” reflete reconfigurações das práticas terapêuticas no atual contexto de digitalização da vida e de uma economia digital? 

Para responder estas e outras perguntas, a investigação do MediaLab.UFRJ se dividiu em dois eixos. O primeiro analisou os comentários de usuários do Cíngulo na Google Play Store, a loja de aplicativos da Google. O segundo baseou-se na experiência direta de uso do app. Dentre os resultados da pesquisa, destacamos que apesar da quase unanimidade de elogios ao app, sobretudo em relação à precisão da análise de personalidade da ferramenta de autoavaliação, no uso direto do app, estas promessas de personalização enunciadas por seus promotores não se concretizam. Além disso, identificamos também um entendimento computacional da mente, promessas de recodificação dos estados emocionais e um modelo de bem-estar psicológico e emocional centrado na individualidade e na autonomia, ressoando modos de subjetivação neoliberais. 

Psiapps: recodificando a cultura terapêutica – Esta investigação é um dos desdobramentos da pesquisa que vem sendo desenvolvida pelo laboratório  desde 2019 sobre aplicativos de autocuidado psicológico e emocional ou, numa versão abreviada, PsiApps. A pesquisa inteira está disponível no site: https://psiapps.medialabufrj.net/, com versão em PDF gratuita de cada relatório.