// MediaLab.UFRJ realiza evento para discutir pesquisas individuais e coletivas

24 de novembro de 2025

Apresentamos a primeira edição do Diálogos MediaLab.UFRJ, um evento anual em que nossas pesquisadoras se reúnem para discutir pesquisas individuais e coletivas, apresentando ao público as temáticas, inquietações e abordagens que têm nos ocupado recentemente.

Neste ano, nossa principal frente de pesquisa coletiva tem sido o uso de chatbots de inteligência artificial como máquinas companheiras. Para além dos usos inicialmente previstos – como assistentes de trabalho, buscas e organização de tarefas – os sistemas de IA têm sido crescentemente mobilizados para questões pessoais, como desabafar sobre dilemas íntimos, pedir conselhos, validar sentimentos, trocar ideias. Conselheiros, amigos, “terapeutas”, coachs, namorados: os chatbots costumam ser estimados pelos usuários por sua ausência de julgamento e por sua disponibilidade contínua e imediata. Neste sentido, eles parecem se consolidar como novos ambientes de intimidade, afetividade e produção de subjetividade.

Fugindo de perspectivas excessivamente antropocêntricas, patologizantes e distópicas, nossa pesquisa busca compreender esses novos regimes de relação humano-máquina, questionando, sobretudo, quem nos tornamos quando conversamos com essas máquinas (Turkle, 2024).

O evento acontecerá no dia 12 de dezembro, no campus da Praia Vermelha da UFRJ, e contará com duas mesas dedicadas às pesquisas de mestrado, doutorado e pós-doc das integrantes do laboratório e uma mesa de encerramento sobre o uso de IAs como máquinas companheiras. Nesta última atividade, teremos a honra de receber os psicanalistas André Alves e Lucas Liedke, do podcast Vibes em Análise.

Informações gerais: Evento: Diálogos MediaLab.UFRJ: Encontro Anual de Pesquisas 2025

Data: 12 de dezembro de 2025

Local: auditório da CPM da Escola de Comunicação da UFRJ (Avenida Pasteur, 250 – Urca)

Inscrições obrigatórias no link: https://form.jotform.com/253375702486059

O evento é gratuito, mas é necessário realizar inscrição. Não haverá transmissão online!

Confira a programação completa do evento:

9h30: Abertura (Fernanda Bruno)

10h – 12h: Mesa I – Tecnopolíticas

Apresentações individuais + comentários de Bruno Cardoso (IFCS/UFRJ) e Paulo Victor Melo (Instituto Univ. de Lisboa)

A investigação de doutorado da pesquisadora Debora Pio busca compreender quais fatores econômicos, sociais, políticos e subjetivos constroem o imaginário do sujeito suspeito na cidade do Rio de Janeiro. Através da análise de arquivos de livros de suspeitos presentes nas delegacias da cidade e de bancos de dados utilizados em ferramentas de reconhecimento facial, a pesquisa busca semelhanças e diferenças nos procedimentos de arquivamento, perfilamento e ordenamento destas imagens. 

Após investigar duas iniciativas antirracistas no campo da tecnologia que contribuem para ampliar o debate sobre esses temas, proponho expandir a análise para o campo das artes, com foco nas tecnoresistências produzidas por mulheres negras. A série “Álbum de Esquecimentos”, criada pela artista visual Mayara Ferrão, exemplifica esse movimento ao se apropriar de imagens coloniais e recriar, por meio da Inteligência Artificial, registros ficcionais de trocas afetivas entre mulheres negras e originárias. A partir deste imaginário decolonial, esse exercício nos convoca a pensar não apenas em resistência, mas em reinvenção de mundos.

A partir do relatório “Políticas de saúde mental das mídias sociais: discussões psicológicas na governança das plataformas digitais”, apresento os resultados da pesquisa sobre as políticas de saúde mental de cinco plataformas relevantes no Brasil: TikTok, Facebook, Instagram, YouTube e X.  Constata-se que as políticas de proteção psicológica são genéricas e desintegradas, adotando uma visão reducionista sobre saúde mental. Com um discurso de neutralidade tecnológica, as plataformas delegam ao usuário a responsabilidade pelo bem-estar, desconsiderando os efeitos sistêmicos e infraestruturais de seus negócios baseados na economia da atenção.

Esta pesquisa analisa o uso de ferramentas de IA no jornalismo a partir de uma perspectiva materialista-relacional que articula três eixos: materialidades, arranjos sociais e práticas. O primeiro abarca o mapeamento de 21 ferramentas jornalísticas automatizadas, indicando a centralidade da noção de otimização, a aceleração das práticas e a dependência das Big Techs. Já o segundo eixo analisa 22 políticas editoriais, apontando que mais do que peças normativas, estes textos são peças de legitimação de formas específicas do que deve ser o jornalismo que acabam por produzir um deslocamento do entendimento clássico em torno dos pares objetividade/subjetividade e humano/máquina no fazer jornalístico. Por fim, alicerçado por entrevistas, o último eixo aborda a ampliação da delegação de tarefas às ferramentas automatizadas e a emergência da exigência de novas competências e perfis profissionais.

 (Paula Cardoso)

A aceleração climática e a tecnológica compõem hoje talvez a principal encruzilhada cronopolítica para compreender a experiência temporal e os imaginários de futuro próprios do “tempo do nosso tempo”. Nesta fala, reflito sobre os entrelaçamentos dessa dupla aceleração (Viveiros de Castro, 2024), analisando sobretudo os imaginários e discursos sobre o futuro impulsionados pelos mais recentes desdobramentos da IA e expressos em noções e ideologias como os riscos existenciais em larga escala, o aceleracionismo e a IA Geral. Embora a tecnociência há muito mobilize as ameaças e promessas finais para produzir seus efeitos (Haraway, 2018), a confluência do Antropoceno com o Tecnoceno (Costa, 2021) e as atuais alianças entre elite tecnológica e extrema direita, confere novos contornos a esse movimento. Assim, proponho conceber tais imaginários enquanto tecnomitologias que integram as fabulações do tempo do fim.

 

14h30 – 16h30: Mesa II – Subjetividades

Apresentações individuais + comentários de Ícaro Ferraz Vidal Junior (Fiocruz) e Paulo Faltay (PPGCOM/UFPE)

Seja ao navegar pela For You do TikTok ou ao conversar com chatbots de IA como o ChatGPT, usuários parecem experimentar sentimentos de prazer, validação e conforto ao se sentirem “vistos” ou “reconhecidos” por máquinas. Tentando elaborar a ideia de intimidades maquínicas, esta fala propõe pensar sobre as transformações da intimidade no mundo digital. Busco ir além dos debates sobre exposição ou mediação tecnológica da intimidade para pensar sobre essa intrigante proximidade que os algoritmos têm evocado.

Nessa apresentação compartilho uma investigação sobre o usuário digital, entendido como causa e sintoma de uma relação situada com o aparato técnico que pode ser alterada por meio do design. A partir de um experimento fabulatório, vamos colocar em questão o modelo extrativista que reduz a potência da nossa experiência online.

Nesta pesquisa, busco compreender como a nostalgia é (re)definida e experienciada no contexto das plataformas digitais na contemporaneidade. A partir da observação de dois movimentos: o primeiro, considerando que a nostalgia se manifesta hoje como uma reação ao mal-estar digital, resultante da plataformização da Internet e dos aspectos políticos e econômicos que circundam esse fenômeno, produzindo assim, uma nostalgia da própria Internet anterior à predominância das plataformas. O segundo expressa-se a partir do compartilhamento de conteúdo nostálgico nessas mesmas plataformas, formando um paradoxo onde a própria nostalgia por desaceleração e por desconexão é acelerada nas vias das recomendações algorítmicas das plataformas digitais.

Na pesquisa aqui apresentada, busco compreender como a estruturação tecnológica de plataformas como Onlyfans e Privacy operou e foi operada por uma reconfiguração moral, mercadológica e estética das subjetividades de trabalho e das sexualidades nativas digitais. De filtros a inteligência generativa, criadores de conteúdo sexual redefinem criticamente não apenas o que está no escopo do trabalho, e até mesmo da propriedade e da autoria, como o que está no escopo da sexualidade humana. Partindo de uma exploração da arquitetura das plataformas e de estudos de caso, desenho um panorama dos elementos constitutivos da relação triangular criadores-plataforma-fãs.

 

17h- 18h30: Mesa de Encerramento – Máquinas Companheiras

Fernanda Bruno apresenta os resultados preliminares da pesquisa coletiva do MediaLab.UFRJ

Participação especial dos psicanalistas André Alves e Lucas Liedke, do podcast Vibes em Análise.