Fala Chthuluceno! Indagações críticas ao Antropoceno: descentralizar as perspectivas, repovoar os imaginários, multiplicar as falas…

3 de outubro de 2015

DO HOLOCENO AO ANTROPOCENO: UM EIXO DE TRABALHO COMUM Julien Bellanger

Um termo foi recentemente popularizado, banalizado frente ao debate atual sobre a mudança climática: o Antropoceno. O Antropoceno é um termo cronológico/geológico utilizado pra qualificar a época na qual as atividades humanas começaram a ter um impacto global significativo sobre os ecossistemas da terra. Isto levanta uma questão imediata: qualificar nosso tempo como Antropoceno seria uma maneira de demonstrar que um ponto de não retorno ja foi ultrapassado, que nós não retornaremos mais às condições ecológicas do Holoceno?

Sem dúvida, estas questões preocupantes estarão no coração dos debates da próxima conferência mundial sobre a mudança climática, a COP21, que será realizada em Paris em dezembro de 2015. Como promover uma tomada de consciência global e ativa? Como garantir que estes debates resultem finalmente em tomadas de decisão efetivas? Como repensar nosso devir?

Para colocar estas questões, a associação dicada PING(1) e a plataforma colaborativa ArtLabo (2) organizaram o 0.camp(3), um laboratório aberto de Arte/ Ciencia /Tecnologia /Sociedade em Nantes (França) de janeiro a junho 2015. Pesquisadores, artistas, ativistas, historiadores, exploradores, curiosos se reuniram durante períodos de residências, desenvolvidas em um formato hibrido entre universidade popular, tempo de pesquisa e criação artística, onde foram promovidas experiências, documentação e narrativas. Os debates se guiaram muitas vezes pelo trabalho de Christophe Bonneuil e Jean-Baptiste Fressoz no evento Antropoceno (Seuil, 2013), fio condutor dos intercâmbios.

ANTROPOCENO, CAPITALOCENO, CHTHULUCENO, PERMANECENDO COM O PROBLEMA EM FUKUSHIMA Pablo De Soto

O quinto aniversário da explosão de vários reatores nucleares a menos de 200 km da área urbana mais populosa do planeta vai coincidir em 2016 com a ratificação da proposta da Comissão Internacional sobre Estratigrafia de que estamos numa nova era geológica, o Antropoceno, marcada pela radical afetação da atividade humana na terra. As definições de ambos os eventos estão em disputa.

A figuração do Antropoceno como a narrativa dominante não é isenta de críticas e formulações alternativas. Jason W. Moore propôs o nome de Capitaloceno, com ênfase nas relações de capital e trabalho. Donna Haraway questiona o termo Antropoceno afirmando que alimenta histórias demasiadamente convencionais e prontas-para-consumir, e propõe a surpreendente figuração do Chthuluceno(5) como uma maneira de escapar do que ela consideram um problema metodológico de partida: o excepcionalismo humano.

Como foi o caso com Chernobyl, a catástrofe nuclear de Fukushima é um tipo de problema apresentado pelas autoridades como “sob controle” frente a um significativo dissenso de grandes camadas da população e pesquisadores independentes que denunciam a existência de políticas da invisibilidade (Petryna, Kuchinskaya, Downer, Yablokov, Ross, Alexievich), que dificultam o conhecimento público das consequências para a saúde do desastre(6).

Como os dois eventos estão relacionados? Como Fukushima contribui para discussões atuais sobre o Antropoceno? Colocando-nos no tempo das catástrofes (Stengers) e no espaço da geohistória/gaiahistoria que está ocorrendo em Fukushima, respondemos à sugestão de Haraway de permanecer com o problema e a sua incitação para a ficção científica. Apoiamo-nos no trabalho de uma longa série de escritores, cientistas e artistas(7), para realizar uma fabulação especulativa sobre o significado de Fukushima a partir das figuras de Antropos, Capital e Chthulu, e suas respectivas máquinas de contar histórias(8).

Referências: (1) PING http://www.pingbase.net/ (2) plataforma http://artlabo.org/ (3) residências 0Camp : http://artlabo.org/0 e pesquisas http://etherpad.pingbase.net/artlabolu (4) http://www.digitalmcd.com/mcd79-nouveaux-recits-du-climat/ (5) Donna Haraway, entrevista em coloquio Os Mil Nomes de Gaia – do Antropoceno à Idade da Terra https://www.youtube.com/watch?&v=1x0oxUHOlA8 (6) El apagón de Fukushima: viejas y nuevas desvisualizaciones, mesa redonda em Medialab-Prado de Madrid http://medialab-prado.es/article/apagon_fukushima (7) De Soto, Las imágenes de Fukushima, Compós 2015 http://www.compos.org.br/biblioteca/compos-2015-6ea2d318-95c8-442a-93f0-2526db1bc51b_2915.pdf (8) http://www.scoop.it/t/cartas-desde-fukushima

Bios:

Julien Bellanger work and live in Nantes/ France. He is co-founder of PiNG, a NGO that explore digital practices and invite people to make technologies theres. From digital to social innovation, PiNG favours the connections between different communities while defending the values of free culture. It is a sort of opened and shared « citizen laboratory » aimed at a wild variety of stakelholders: NGOs, public organisations, artists, designers, makers, researchers, schools…. Julien is developing a interdisciplinary lab in cooperation named ‘ARTLABO’, at the intersection of science, arts, digital practices and social innovation, exploring new ways of thinking the actual environmental challenges. Between experimental practices and collective works, the different works developped throughout the project will be mediums to stimulate a civic debate on a post-anthropocene aera.

Pablo de Soto é doutorando no PPGCPM da ECO UFRJ e editor dos livros Fadaiat: Libertad de Movimiento, libertad de Conocimiento y Situation Room, construyendo un prototipo ciudadano de Sala de Situación. É diretor dos projetos Mapping the Commons e Drone Hackademy. Na década dos anos 2000s foi um dos tres fundadores de hackitectura.net.

tradução: efeefe, francine tavares

Data: 29 Outubro, 17h

Lugar: MediaLab.UFRJ

https://www.facebook.com/events/1718243158404199/