#EstamosLendo_2 // Psicopolítica: neoliberalismo e novas técnicas de poder, Byung-Chul Han

23 de abril de 2021

Por Manuella Caputo

O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han é conhecido por suas análises da sociedade contemporânea, partindo de temas como transparência, trabalho, Internet e doenças mentais. Em “Psicopolítica: neoliberalismo e novas técnicas de poder”, Han nos introduz ao indivíduo de nossos tempos, o sujeito neoliberal: empreendedor de si mesmo, capaz de uma autoprodução ilimitada porém jamais de se relacionar livre de qualquer interesse. É, na verdade, um trabalhador que explora a si mesmo para sua própria empresa. Sendo assim, quando falha, só pode culpar a si mesmo e assim lidar com o fracasso. Portanto, o autor alerta que, no regime neoliberal de autoexploração, não se formam revolucionários, mas sim depressivos.

Essa transição está diretamente relacionada às formas de produção do capitalismo atual, muitas vezes imateriais, como na produção de informações, coleta de dados e desenvolvimento de softwares. Assim, na sociedade da informação, a biopolítica já não é mais suficiente – o regime neoliberal precisa explorar a psique. O sujeito é explorado não apenas no trabalho, como em todas as áreas de sua vida, sua atenção total é demandada. E como consequência, se tornam cada vez mais recorrentes doenças mentais como a depressão e o burnout.

De forma excessiva, mas voluntária, acabamos por produzir informação de acordo com o dispositivo neoliberal da transparência, como indica o autor. Por meio do digital, a liberdade e a comunicação se transformam em formas de monitoramento e controle total. A lógica mercadológica nos leva para a quantificação, a comparação e análise de métricas o tempo todo.

Segundo Han, vivemos um segundo Iluminismo, do dataísmo – do puro conhecimento orientado a dados. Mensurar o desempenho até mesmo do tempo de descanso se tornou uma prática comum. O automonitoramento vai se fundindo com a autovigilância e vamos nos tornando ao mesmo tempo guarda e prisioneiro do nosso panóptico digital. Nas palavras do autor, a conclusão é de que o “sujeito digitalizado e conectado é um panóptico de si mesmo”.

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