#ESTAMOSLENDO_4 // TECNODIVERSIDADE, YUK HUI

1 de junho de 2021

Por Helena Strecker

O livro Tecnodiversidade, organizado pela editora Ubu e lançado em 2020, reúne alguns dos principais textos do filósofo da tecnologia Yuk Hui. Trazendo um olhar a partir da perspectiva chinesa, o pensador defende novas “cosmotécnicas” como uma saída para a atual crise ecológica, política e social do mundo. 

No livro, Yuk argumenta que o que chamamos de tecnologia não é um absoluto ou um fenômeno universal, mas algo circunscrito a uma concepção particular de cosmos e de moral. Estes pressupostos ontológicos e epistemológicos estariam embutidos nas próprias materialidades tecnológicas, como nos bancos de dados e arquiteturas algorítmicas. Assim, ele defende que a busca por uma tecnodiversidade seria parte do projeto de descolonização e superação da modernidade.

Um de seus principais conceitos, a noção de “cosmotécnicas” aponta para que pensemos uma multiplicidade de tecnologias. Com objetivo de rearticular a questão da técnica numa perspectiva plural, fora das referências epistemológicas europeias, o pesquisador propõe uma filosofia da tecnodiversidade. Para isso, é preciso construir novas agendas e imaginações tecnológicas que apreendam outras perspectivas e futuros possíveis, levando em conta contextos locais e problemáticas particulares. Deslocando-se de uma perspectiva fatalista e tecnofóbica, afirmar que existem múltiplas cosmotécnicas implica imaginar outros referenciais e orientações para o desenvolvimento tecnológico que não as competições econômicas, geopolíticas e o suposto “progresso” da humanidade.

Em diálogo com os antropólogos da chamada “virada ontológica”, Yuk Hui argumenta que eles ignoraram em grande medida a questão da tecnologia – que agora se apresenta como um tema central na discussão sobre a oposição natureza/cultura. Neste sentido, o livro parte do entendimento de que estamos em um momento crítico para reflexão sobre o futuro da tecnologia. A cosmotécnica é entendida por Yuk como uma cosmopolítica: “recolocar a questão da tecnologia é recusar esse futuro tecnológico homogêneo que nos é apresentado como única opção” (Yuk, 2020, p. 46). 

 

> Para quem quiser saber mais:

Os textos do livro dialogam principalmente com dois livros do autor ainda não publicados em português, The Question Concerning Technology in China – An Essay in Cosmotechnics (2016) e Recursivity and Contingency (2019). Recentemente foi publicado também em inglês um diálogo entre Yuk Hui e o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro.

Além disso, vale relembrar que em 2019 o MediaLab.UFRJ organizou, em parceria com o ITS Rio, a conferência “Após o orgânico”, que contou com a presença do filósofo no Salão Pedro Calmon (FCC, UFRJ). O vídeo completo da conferência está disponível no nosso canal do Youtube.

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#EstamosLendo é uma seção do blog do laboratório que publica pequenas resenhas de livros e artigos que integram pesquisas individuais ou coletivas do MediaLab.UFRJ.