// PARA ALÉM DO NÚMERO DE LIKES EXIBIDOS: QUANTO VALE A SUA ATENÇÃO E SANIDADE MENTAL?

15 de junho de 2021

Por Larissa Pacheco

O Instagram voltará com a opção de visualização de curtidas. A reexibição do número de likes ainda não chegou para todos pois está em fase de testes desde maio, mas agora ficará a critério do usuário ver ou não esses números. O aplicativo apresenta uma notificação na interface inicial alertando da atualização e informa as instruções para ir às configurações e optar por exibir ou não.

A alteração vem no quase um ano depois do banimento das visualizações de curtidas no Brasil. A retirada aconteceu em junho de 2020, no ápice da pandemia da Covid-19. Com o apelo virtual que a sociedade sofreu devido ao isolamento social, a atitude do Instagram gerou vários debates públicos sobre a sanidade mental, principalmente dos jovens, nas redes sociais. Helena Strecker, pesquisadora do MediaLab.UFRJ, falou mais sobre isso em seu texto: #DOBRAS 37 // O INSTAGRAM SE PREOCUPA MESMO COM A NOSSA SAÚDE MENTAL?.

Segundo a pesquisa #StatusOfMind: Social media and young people’s mental health and wellbeing da Royal Society For Public Health realizada em 2017, 91% dos jovens entre 16 e 24 anos usam a internet para acessar redes sociais, que são descritas pelos próprios como mais viciantes que cigarros e álcool. Na mesma pesquisa, o Instagram é avaliado como a plataforma mais prejudicial para a saúde mental dos usuários. Segundo o relatório, o número de curtidas tem relação direta sobre auto estima, insegurança e auto projeção dos usuários e isso gera um impacto significativo na saúde psicológica de quem utiliza a plataforma. Ansiedade, estresse, depressão, Síndrome de FoMO (Fear of Missing Out – medo de perder algo), baixa qualidade do sono, solidão, entre outros, são sintomas que a pesquisa apresentou estarem associados ao uso do Instagram. 

Para inflamar todos esses dados, o isolamento colocou, não só os jovens, mas sociedade em geral para mergulhar numa onda virtual que é a experiência do isolamento social em um mundo globalizado. Todos passaram a oferecer, mais que o normal, do seu tempo e sua atenção a estas plataformas. E nessa disputa por atenção, ganha quem conseguir engajar e entreter mais o seu público e o número de curtidas é só uma das balizas para medir essa relação. Este é o cenário mais fértil quando se fala sobre Economia da Atenção, a noção de que, no meio de tanta produção de conteúdos textuais, imagéticos, de produtos e informações, nada é mais valioso que a sua atenção (e o seu tempo). É nesse contexto que vivemos atualmente.  

E é através desse ponto de partida, que gera a principal fonte de capitalização das mídias digitais, que através de um mercado de dados digitais, operam segundo a nova lógica de acumulação do Capitalismo de Vigilância (Zuboff, 2015). 

Nossa pesquisadora, Anna Bentes, na sua dissertação de mestrado apresenta este mesmo argumento. Em “Quase um tique: Economia da Atenção, Vigilância e Espetáculo a partir do Instagram”, Anna fala que a captura tão intensa do nosso tempo e da nossa atenção pela plataforma não apenas é fruto das estratégias extremamente eficazes e persuasivas da economia da atenção e do gancho, mas, sobretudo, é também um efeito desses descolamentos históricos que tornam os modos de ver e ser vistos aspectos fundamentais aos nossos modos de ser contemporâneos. Portanto, nesse regime híbrido de relações entre vigilância e espetáculo, os hábitos “quase um tique” são produzidos principalmente pelo desejo e necessidade de trocas intersubjetivas de atenção.