// Detecção emocional em escolas: Helena Strecker comenta reportagem da Agência Pública

30 de outubro de 2023

Além de servirem para identificação de pessoas, as tecnologias de reconhecimento facial têm sido cada vez mais utilizadas para inferir estados emocionais através da análise de microexpressões faciais. 

Uma reportagem de sexta (27/10) da Agência Pública revelou que a rede de ensino pública do Paraná implantou um serviço chamado Educatron, que não apenas substitui a tradicional chamada dos alunos com o uso de câmeras de reconhecimento facial, mas utiliza a tecnologia para monitorar como eles estão se comportando. Um projeto piloto do estado utilizou técnicas de análise facial para medir características como atenção e dispersão durante a aula, de modo a quantificar a qualidade da aula e o envolvimento dos alunos.

“Um dos grandes problemas das tecnologias de detecção de emoções é que elas são construídas a partir de teorias e pressupostos bastante controversos. A ideia de que todos os humanos expressam as mesmas emoções da mesma forma, isto é, de que as emoções seriam inatas, universais e as mesmas ao redor do mundo, tem sido disputada por psicólogos e antropólogos há décadas”, comenta Helena Strecker, pesquisadora do MediaLab.UFRJ.

Outro ponto destacado pela reportagem e frequentemente pontuado no debate sobre tecnologias de reconhecimento facial é o caráter discriminatório destes sistemas. Além dos erros de identificação de pessoas negras serem muito comuns, os softwares de detecção de emoções tendem a atribuir sentimentos negativos com maior frequência a pessoas negras, como raiva ou agressividade.

“As falhas recorrentes mostram que as promessas de precisão, segurança ou economia estão longe de serem consistentes. Além de apontar os erros e denunciar os viéses racistas destes sistemas, também precisamos nos perguntar: esta tecnologia beneficia a sociedade de alguma forma? É a tecnologia de detecção de emoções que vai melhorar o desempenho dos alunos na sala de aula? Ou estamos propondo uma solução tecnológica para um problema que é muito mais complexo?”, acrescenta Strecker.

A inferência de aspectos psíquicos e emocionais dos dados pessoais digitais é um fenômeno que vem sendo estudado pelos pesquisadores do MediaLab.UFRJ nos últimos anos, como parte do projeto “Economia Psíquica dos Algoritmos: racionalidade, subjetividade e conduta em plataformas digitais”. Abaixo, disponibilizamos alguns materiais publicados sobre o tema: