// MediaLab.UFRJ no XIII Simpósio Nacional da ABCiber

15 de dezembro de 2020

O MediaLab.UFRJ participará, no dia 16 de dezembro, às 17h, do XIII Simpósio Nacional da ABCiber. Com o tema “Virtualização da vida: futuros imediatos, tecnopolíticas e reconstrução do comum no cenário pós-pandemia”, o evento acontecerá de forma virtual entre os dias 16 e 19 de dezembro.

Os pesquisadores do Laboratório Paulo Faltay, Anna Bentes, Paula Cardoso e Mariana Antoun realizarão a mesa “Economia Psíquica dos Algoritmos: Produção de conhecimento e modulação do comportamento”. A atividade será mediada por Alessandra Marassi.

A participação no evento é paga e confirmada mediante inscrição. Para saber mais, acesse este link.

Confira abaixo a proposta de mesa elaborada pela equipe do MediaLab.UFRJ:

 

ECONOMIA PSÍQUICA DOS ALGORITMOS

Produção de conhecimento e modulação do comportamento

Anna Bentes; Paulo Faltay; Paula Cardoso; Mariana Antoun

 

A inserção crescente e cada vez mais intensa das tecnologias digitais nas nossas vidas sociais e subjetivas está diretamente relacionada com a produção, captura e análise massiva de dados dos mais diferentes âmbitos da experiência humana. Com a pandemia do novo coronavírus, vimos nossos corpos serem fisicamente isolados e nossa convivência afetiva, profissional, educacional ser virtualizada ao extremo, acelerando os processos de datificação da vida. 

Esse processo, simultaneamente causa e consequência do que vem sendo nomeado por capitalismo de vigilância (ZUBOFF, 2019) ou capitalismo de dados, alimenta os modelos de negócios de grandes corporações tecnológicas com a promessa de prever e modificar o comportamento humano a partir de dados e algoritmos. A mesa tem como objetivo discutir a forte dimensão laboratorial dessas estratégias de previsão e indução de comportamento nas plataformas digitais (e eventualmente fora delas) a partir da noção de Economia Psíquica dos Algoritmos (BRUNO, 2018). Por Economia Psíquica dos Algoritmos (EPA) entende-se:  

o investimento contemporâneo – tecnocientífico, econômico e social – em processos algorítmicos de captura, análise e utilização de informações psíquicas e emocionais extraídas de nossos dados e ações em plataformas digitais (redes sociais, aplicativos, serviços de streaming, plataformas de compartilhamento e/ou consumo de conteúdo audiovisual etc.) (BRUNO, BENTES, FALTAY, 2019, p 5) 

Nesse investimento, a EPA articula três camadas: a) camada econômica ou mercadológica, na qual a tonalidade psíquica e emocional dos dados constitui a principal ‘moeda’ do modelo de negócios que prevalece nas plataformas digitais; b) camada epistemológica, em que as informações psicológicas são a fonte privilegiada de conhecimento de uma nova ciência de dados; c) camada de gestão e controle comportamental, em que dados e previsões orientam estratégias de modificação de comportamentos para diferentes fins. No cruzamento cotidiano dessas três camadas em plataformas digitais, “as fronteiras entre o laboratório e a vida social, política e subjetiva tornam-se extremamente tênues” (op cit, p.6).

A proposta desta mesa é apresentar e discutir alguns dos desdobramentos do projeto de pesquisa “Economia Psíquica dos Algoritmos: racionalidade, subjetividade e conduta em plataformas digitais”, coordenado pela Profª Fernanda Bruno e desenvolvido pela equipe do Medialab.UFRJ, laboratório experimental e transdisciplinar sediado na Escola de Comunicação da UFRJ. Para tanto, contaremos com a participação dos pesquisadores do Medialab.UFRJ apresentando resultados da investigação coletiva e das conexões dela com as pesquisas individuais realizadas no âmbito da pós-graduação em Comunicação e Cultura da UFRJ. 

Na primeira palestra, Anna Bentes apresentará a noção de EPA e suas relações com as engrenagens do capitalismo de vigilância, alguns de seus principais casos e questões. Na segunda, Paulo Faltay examina a figura do sujeito influenciável como elemento crucial aos modos de socialização e subjetivação de ambientes e aplicações digitais. Em seguida,  Paula Cardoso reflete sobre os regimes de saber dos algoritmos preditivos a partir de três deslocamentos que a racionalidade algorítmica engendra. Por fim, Mariana Antoun apresenta o resultado de um estudo de caso feito a partir de 10 aplicativos de autocuidado psicológico e emocional (PsiApps) e seus principais achados. 

Palavras-chave: Algoritmos; Capitalismo de vigilância; Subjetividade; Aplicativos

 

1. ECONOMIA PSÍQUICA DOS ALGORITMOS (EPA): conhecer, enganchar e influenciar  – Anna Bentes

A abertura desta mesa será feita pela pesquisadora Anna Bentes, com uma apresentação sobre a noção de Economia Psíquica dos Algoritmos. Expondo casos, exemplos e pesquisas, Bentes discutirá como o investimento em processos algorítmicos de captura, análise e utilização de informações psíquicas e emocionais está relacionado às engrenagens do capitalismo de vigilância. Casos como o que envolveu a consultora de marketing político Cambridge Analytica nas eleições americanas de 2016, o Experimento sobre o Contágio Emocional realizado pelo Facebook em 2014 entre outros serão discutidos para evidenciar as relações entre os modos de capitalização das plataformas digitais, a produção de conhecimento a partir de mecanismos automatizados e formas de gestão e controle do comportamento. Com foco no aspecto laboratorial presente na dinâmica comercial das plataformas digitais, serão apresentadas algumas das matrizes científicas da psicologia e ciências comportamentais presentes nas técnicas computacionais e algorítmicas. 

Palavras-chave: subjetividade; algoritmo; capitalismo de vigilância.

 

2. Sujeitos influenciáveis: conhecimento, comportamento e subjetividade em redes algorítmicas – Paulo Faltay

Paulo Faltay examina a figura do sujeito influenciável como elemento crucial aos modos de socialização e subjetivação de ambientes e aplicações digitais. Sujeito influenciável é entendido como aquele cuja conduta é possível de se tornar objeto de intervenção, mediante o monitoramento do comportamento online e o conhecimento produzido pela identificação, classificação e cálculo automatizados de dados digitais pessoais e relacionais. Interessa perceber como a noção de “influenciabilidade dos sujeitos” está relacionada à centralidade que aplicativos e plataformas passam a desempenhar na organização de importantes áreas da vida social e subjetiva. Ou seja, não se configuram apenas como novas formas de intermediação e tráfego de informação e conteúdo, mas também como dispositivos político-econômicos, subjetivos e epistemológicos. Mobilizando, assim, os regimes específicos de saberes que procuram modular comportamento, e produzir conhecimento extrair e valor a partir de dados digitais e análises algorítmicas. 

Palavras-chave: algoritmos; influência; subjetividade; 

 

3. Futuros algorítmicos: regimes de saber da predição maquínica – Paula Cardoso 

No contexto de um capitalismo que extrai e analisa automaticamente imensos volumes de dados, os modos de saber agenciados pelos algoritmos são essenciais para alimentar os “mercados de comportamentos futuros” (ZUBOFF, 2019) relacionados ao uso de “saberes probabilísticos e estatísticos para fins de antecipação de comportamentos individuais” (ROUVROY, BERNS, 2015). Se o Big Data se transformou em oráculo para as indústrias do mercado, da ciência, da guerra ou da segurança, o algoritmo é o pequeno profeta capaz de revelar os “signos da predição” contidos em bancos massivos de dados. Nesse cenário, a produção de predição por meio de algoritmos da Inteligência Artificial — sobretudo aqueles baseados em técnicas de aprendizado de máquinas — se torna uma tecnologia cada vez mais mobilizada para prometer a modernização dos serviços ao instalar um novo regime de antecipação de eventos (BENBOUZID & CARDON, 2018) que delega à suposta objetividade e neutralidade do algoritmo a regulação automatizada da interpretação e da decisão. Entendendo os algoritmos preditivos enquanto tecnologias de governo do futuro cujas dimensões mais poderosas se relacionam aos modos pelos quais esses sistemas governam o curso das ações possíveis, Paula Cardoso propõe uma reflexão sobre os regimes de saber destes dispositivos a partir de três deslocamentos que a racionalidade algorítmica engendra na “ordem das coisas”: a prevalência da performatividade sobre a representação; do correlacionismo sobre a causalidade; e do provável sobre o possível.

Palavras-chave: algoritmos, predição, racionalidade.

 

4. Tudo por Conta Própria: aplicativos de autocuidado psicológico e emocional – Mariana Antoun 

A pesquisadora Mariana Antoun apresenta o relatório “Tudo por conta própria”: aplicativos de autocuidado psicológico e emocional, desenvolvido e publicado em maio de 2020 pelos pesquisadores do MediaLab.UFRJ e que trouxe resultados preliminares do estudo de 10 aplicativos de autocuidado psicológico e emocional (PsiApps), gratuitos e disponíveis na Google App Store no Brasil. Nesta palestra, Antoun apresenta os critérios de seleção dos aplicativos, os métodos aplicados na pesquisa e seus principais achados. A análise se desdobra a partir de dois eixos. O primeiro dedicado especificamente ao discurso de apresentação e descrição dos apps e suas funcionalidades na loja de apps, em seus sites e redes sociais, portanto, uma camada visível. O segundo eixo voltado para a uma camada mais opaca, visando mapear as formas de coleta, de uso e de compartilhamento de informações dos usuários desses apps. No primeiro eixo, foi observado que em seu discurso e nas utilidades oferecidas por esses apps, o sofrimento psíquico e emocional, bem como a terapêutica proposta, estão fortemente centrados no indivíduo. Já na análise dessa camada não-visível ressaltamos a falta de transparência e clareza em relação ao tipo de dados que tais aplicativos coletam sobre os usuários, bem como sobre a trajetória desses dados tanto no compartilhamento com terceiros, quanto nas suas finalidades e utilizações. Veremos como o contraste entre a centralidade da agência individual promovida pelos discursos dos PsiApps e o caráter relacional da infraestrutura e do ecossistema de dados que integram evidenciam as contradições da autonomia ofertada por estes aplicativos.

Palavras-chave: aplicativos móveis; autocuidado; saúde mental; economia de dados.

 

Referências bibliográficas

BENBOUZID, Bilel, CARDON, Dominique. “Machines à prédire”. Réseaux, 2018/5, n° 21, p. 9-33. DOI : 10.3917/res.211.0009. Disponível em: https://www.cairn-int.info/revue-reseaux-2018-5-page-9.htm. Acesso em: 16 de novembro de 2020.

BRUNO, Fernanda.______. “A economia psíquica dos algoritmos: quando o laboratório é o mundo” Nexo. 2018. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2018/A-economia-ps%C3%ADquica-dos-algoritmos-quando-o-laborat%C3%B3rio-%C3%A9-o-mundo. Acessado em: 09 de novembro de 2020.

BRUNO, Fernanda; BENTES, Anna; FALTAY, Paulo. Economia psíquica dos algoritmos e laboratório de plataforma: mercado, ciência e modulação do comportamento. Revista Famecos, Porto Alegre, v. 26, nº 3, set-dez, 2019.  Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/33095 >

BRUNO, F.; BENTES, A.; ANTOUN, M.; CARDOSO; P.; FALTAY, P.; STRECKER, H.; MARRAY , M.; ROCHA, N. (2020). “Tudo por conta própria”: aplicativos de autocuidado psicológico e emocional. Rio de Janeiro: MediaLab.UFRJ. Disponível em: <https://medialabufrj.net/wp-content/uploads/2020/05/Relato%CC%81rio_PsiApps_MediaLabUFRJ-1.pdf >

ZUBOFF, Shoshana. The Age of Surveillance Capitalism: The Fight for a Human Future at the New Frontier of Power. PublicAffairs: New York, 2019

ROUVROY, Antoinette, BERNS, Thomas. Governamentalidade Algorítmica e perspectivas de emancipação: o díspar como condição de individuação pela relação?. Revista ECO Pós, vol. 18, n. 2, 2015.