EXPULSIÓN: Cartografias del desplazamiento

31 de janeiro de 2018

Antiga floresta comunal no território Shuar, agora cercada como propriedade privada da empresa chinesa Ecuacorriente. (autonoma / Paulo Tavares, agosto de 2017).

 

O projeto Expulsión investiga o processo de deslocamento forçado de comunidades indígenas na Cordillera del Condor, território ancestral do povo Shuar, devido a expansão massiva da fronteira extrativista na região.

Localizada no sul do Equador, junto a divisa com o Peru, a Cordillera del Condor é um território de características únicas, marcado por extrema biodiversidade e alto índice de espécies endêmicas, muitas ainda desconhecidas.

Durante os últimos dez anos vários projetos de mega-mineração a céu aberto foram instalados na região, processo que tem sido caracterizado pela despossessão brutal de terras das comunidades locais, sistemáticas violações de direitos humanos, e destruição ambiental em larga escala.

Trabalhos de escavação do projeto Mirador, Cordillera del Condor, dezembro de 2017 (autonoma / Paulo Tavares). Atualmente, as concessões mineiras (em trâmite ou aprovadas) cobrem mais de 10% do território Equatoriano.

 

Expulsión agrega uma série de evidências cartográficas e documentais para demonstrar como a repressão política às comunidades que resistem a expropriação de seus territórios constitui um elemento central da expansão da fronteira extrativista na região.

 

Evolução do projeto Mirador entre 2013 e 2017 visto por satélite (autonoma)

 

Para visibilizar este conflito, a investigação se debruça sobre três dos maiores projetos de mega-mineração na Cordillera del Condor. Cada um eles encontra-se em uma etapa distinta de implementação, ilustrando vários estágios de avanço da fronteira extrativista. Mas todos compartilham a dinâmica violenta da expulsão em diferentes níveis, escalas e temporalidades: expulsão dos minerais da terra, da floresta e seus habitantes; expulsão da memória destes territórios, através da destruição de sítios arqueológicos indígenas; e, enfim, expulsão das comunidades – humanas e não humanas – que são forçadas a deslocar-se por conta da violência do Estado ou pela destruição ambiental tóxica causada por estes empreendimentos.

Raul Sanchez, antigo morador da região de Tundayme, sobre os escombros da antiga casa de seus pais, demolida por forças estatais em dezembro de 2015 (autonoma / Paulo Tavares, Janeiro de 2016).

 

Colaboradores

O projeto Expulsión é uma iniciativa da agência autonoma, uma plataforma de investigação dirigida pelo arquiteto e urbanista Paulo Tavares. Expulsión é desenvolvido em colaboração com uma série de organizações civis e movimentos sociais no contexto da “Comissão pela Verdade e Justiça para a Natureza e os Povos”, uma comissão da verdade cujo propósito é documentar as violações de direitos humanos e da natureza cometidas no Equador em situações de conflito ecológico durante a última década.

O produto final do projeto será utilizado como evidência para esta comissão e outros casos jurídicos em cortes nacionais e internacionais. Em Janeiro de 2018, resultados preliminares da investigação foram incorporados como perícia dentro da ação legal para reparação das comunidades deslocadas que está sendo promovida pelo agência de advocacia humanitária INREDH – Fundación Regional de Asesoría en Derechos Humanos. www.autonoma.xyz

 

Esq: Exposição dos mapas para a comunidade shuar de Twintza, durante oficina de socialização dos impactos da mineração realizada pelo coletivo Minka Urbana e Associação Shuar Arutam (autonoma / Paulo Tavares, dezembro de 2017).

 

Domingos Ankwash, liderança Shuar, explicando os impactos do projeto Mirador (autonoma / Paulo Tavares, dezembro de 2017).

 

Expulsión também conta com a colaboração dos coletivos Minka Urbana e Geografia Crítica, da associação CASCOMI – Acción Social Cordillera del Cóndor Mirador; e da organização Acción Ecológica.

Expulsión é apoiado pelos projetos Lavits / MediaLab – Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Forensic Architecture, Goldsmiths – Universidade de Londres.

O apoio do MediaLab.UFRJ / Fundação Ford ao projeto durante o segundo semestre de 2017 foi essencial para consolidar a primeira etapa da investigação, oferecendo suporte a pesquisa remota e investigação de campo. Foi realizada uma compilação robusta de evidências acerca do caso, que numa segunda etapa será analisada e trabalhada em diferentes mídias, online e impressa. O apoio do MediaLAb também foi decisivo para realizar uma viagem de campo para a Amazônia Equatoriana, que contou com pesquisa de arquivos e dezenas de entrevistas com impactados, advogados e representantes de organizações de direitos humanos do Equador.

Em março de 2018 será realizado no MediaLab.UFRJ, Rio de Janeiro, uma apresentação dos resultados do projeto Expulsión.

 

 

Coordenação: Paulo Tavares, (FAU-UnB)

Equipe: Adriano Belisário, pesquisador do Medialab/UFRJ e mestre em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.